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[1ª Série] Filosofia: Sócrates

terça-feira, 30 de maio de 2017

Um pouquinho mais sobre a vida e a obra do filósofo Sócrates:

Por Karoline Rodrigues de Melo
 A Morte de Socrates (Jacques-Louis David, 1787)
Sócrates é um dos principais filósofos gregos. Nasceu na cidade de Atenas, no ano de 470 a.C. no chamado período clássico, no auge da democracia ateniense.

Filho do escultor Sofronisco, especialista em entalhar colunas nos templos, e de Fainarete, uma parteira, foi soldado, escultor, senador e na maturidade, filósofo. Alegava que, desde criança, ouvia vozes divinas instigando-o ao ofício da filosofia. Por conta disso, passou a perambular pelas ruas da cidade de Atenas fazendo de uma maneira bem característica a sua filosofia: fazendo perguntas a qualquer um que aceitasse conversar com o objetivo de ajudá-las a descobrir, nelas mesmas, o conhecimento que as conduziria a virtude. Sócrates não se importava com a classe, posição ou condição do seu interlocutor. Conversava com os mais distintos e até mesmo com os escravos. Aliás, as convenções sociais eram por ele muito questionadas.

A pergunta essencial da filosofia socrática era "o que é a essência do homem?". Segundo o filósofo, a essência do ser humano era a sua própria alma - entendida aqui como razão, consciência intelectual e moral, aquilo que distingue o ser humano dos outros seres presentes na natureza.

Sócrates e os filósofos sofistas inauguram uma nova etapa na história da filosofia: eles abandonaram a preocupação dos filósofos pré-socráticos em explicar a natureza e se debruçaram sobre a problemática humana. No entanto, contrário aos sofistas, Sócrates se opunha ao relativismo dos seus valores éticos e morais.

Os sofistas eram filósofos itinerantes, vindos das mais variadas regiões próximas a Atenas, que cobravam pelos seus ensinamentos. Eram uma espécie de retóricos de aluguel que, valendo-se da arte da argumentação, relativizavam o conhecimento, defendendo o que a quem quer que fosse, desde que fossem bem remunerados. Platão, discípulo de Sócrates, os chamava de "impostores", "malabaristas de argumentos".

Sócrates não deixou nenhum escrito. O que se sabe dele e de sua maneira de fazer filosofia estão nos textos militares de Xenofonte, nos textos cômicos de Aristófanes e, principalmente, nos textos filosóficos de Platão, o seu melhor discípulo! Platão o transformou em protagonista em diversos de seus textos, como O Banquete, Apologia de Sócrates, Alcebíades I, Teeteto, Fédon e A República.

Para Sócrates, todos já nascem com o conhecimento e que cabia ao mestre realizar o parto desse conhecimento. Ele entendia que, só o conhecimento que vem da alma é capaz de revelar o verdadeiro discernimento do que é justo, bom e certo. Para ajudar nesse"nascimento", Sócrates se valia de um método dialógico que ele chamou de maiêutica - em grego, μαιευτικη — maieutike — significa “arte de partejar", dar à luz - uma clara referência à atividade de parteira de sua mãe.

Ele dizia que, assim como a sua mãe ajudava a trazer à luz a vida, o filósofo ajuda a trazer à luz a verdade, bastando utilizar a razão. No começo dos diálogos com os seus interlocutores, Sócrates se posicionava como alguém que não soubesse nada sobre o assunto e dava início a conversa com uma pergunta que o respondiam com o seu próprio jeito de pensar. No início, se colocava em uma posição de quem aceitava o ponto de vista do interlocutor, porém, com um senso de humor que desorientava (ironia socrática), ele contra-argumentava e busca convencer o ouvinte das contradições e inconsistências de suas reflexões, levando a admitir o seu equívoco e seu desconhecimento.

As perguntas feitas pelo filósofo são próprias da dialética socrática, isto é, o exercício de contrapor argumentos contrários que, basicamente, possui três elementos: a tese, a antítese e a síntese. A tese é compreendida como uma afirmação, a antítese, uma oposição a essa afirmação e, no confronte entre tese e antítese surge o terceiro elemento, que é a síntese - compreendida como o resultado do raciocínio, a prevalência do intelecto sobre a opinião.

O propósito do método socrático, vinha da crença que o filósofo tinha de que há apenas uma maneira de se conhecer a verdade: conhecendo-se a si mesmo. É famosa a sua frase "conhece-te a ti mesmo", inspirada na inscrição no Oráculo de Delfos, templo sagrado de consulta aos deuses gregos.

Para Sócrates, só quem conhece a si mesmo sabe que não sabe. A grande virtude, segundo ele, é saber que não sabe. Em outras palavras, quanto mais tem a consciência de sua ignorância, mais sábio é o homem. E aqueles que pensam saber e não sabem que não sabem, seriam na sua concepção, os mais tolos dos homens!

No texto Apologia de Sócrates, Sócrates relata que a Pitonisa do Oráculo de Delfos teria afirmado ao historiador Xenofonte que o homem mais sábio de todos era ele. Quando soube do ocorrido, Sócrates foi tomado pelo espanto, uma vez que tinha consciência de sua ignorância. Não convencido da revelação do Oráculo, Sócrates foi procurar por poetas, artífices e políticos, para provar que eles, por seus privilegiados ofícios, eram de fato os homens mais sábios que existiam. No entanto, decepcionado com sua arrogância e soberba, Sócrates confessou finalmente entender o que significava ser sábio para Delfos: ser capaz de perceber seus limites e imperfeições, compreender as ilusões das aparências e a efemeridade das paixões e com a razão controlar-se. Somente assim saberá depurar seu coração e sua alma e agir com justiça e retidão.

As críticas feitas por Sócrates às categorias de cidadãos que se julgavam sábios resultou em ódio e vingança de seus desafetos, que acabou em sua condenação à morte por envenenamento por cicuta. Seus acusadores foram Meleto, representando os poetas, Anitto, pelos artífices e Licon, representando os políticos. Eles acusaram Sócrates de dois crimes: corromper os jovens de suas ideias subversivas e negar a existência dos deuses de Atenas.

Recusando-se de abrir mão de suas ideias, que poderia salvá-lo da morte, Sócrates enfrentou a morte aos 71 anos de idade com um ato de coerência e dignidade. No dia de sua execução, narrado na Apologia de Sócrates, o mestre reuniu os amigos e discípulos e, antes de beber o cálice fatal despediu-se dizendo: "Se de fato é como um sono, a morte seria um maravilhoso presente, porquanto todo o tempo se resume a uma única noite. Se, ao contrário, a morte é uma passagem deste para um outro lugar, e que lá se encontram todos os mortos, qual o bem que poderia existir, oh juízes, maior do que este? Mas já é hora de irmos. Eu, para a morte, e vós para viverdes. Quem vai para a melhor sorte, isso é segredo. Exceto para deus."



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