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[2ª Série] Sociologia: Pensando sobre os conceitos de sexo, sexualidade e gênero.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Pensando sobre os conceitos de sexo, sexualidade e gênero.

•    O termo “sexualidade” nos remete a um universo onde tudo é relativo, pessoal e muitas vezes paradoxal. Pode-se dizer que é traço mais íntimo do ser humano e como tal, se manifesta diferentemente em cada indivíduo de acordo com a realidade e as experiências vivenciadas pelo mesmo.
•    Muitas vezes se confunde o conceito de sexualidade com o do sexo propriamente dito. É importante salientar que um não necessariamente precisa vir acompanhado do outro. Cabe a cada um decidir qual o momento propício para que esta sexualidade se manifeste de forma física e seja compartilhada com outro indivíduo através do sexo, que é apenas uma das suas formas de se chegar à satisfação desejada.
•    Sociologicamente é crucial elaborar uma distinção entre os conceitos de gênero e de sexo. Para o senso comum, aparentemente quererem dizer o mesmo. Entretanto, sociologicamente se uma diferença substancial entre ambos.
•    O sentimento de um sociólogo face à ideia de que estes termos quererem dizer o mesmo pode ser facilmente equiparado à de um pintor cujas obras abstracionistas são confundidas com as naturalistas. Façamos uma comparação antes de definirmos os termos. O naturalismo corresponde ao conceito de sexo, enquanto o conceito de gênero de liga com o abstracionismo. E porquê? Porque enquanto o naturalismo "pinta" cenas concretas do visível, da realidade vista a olhos nus, o abstracionismo corresponde a pinturas como a Guernica de Pablo Picasso: a pintura dos sentimentos do artista num dado momento, num dado local. O mesmo se passa com o sexo e o gênero. Enquanto sexo se pode facilmente definir pelas diferenças anatômicas e fisiológicas que definem o corpo masculino e o feminino, por gênero entendem-se as diferenças psicológicas, sociais e culturais entre os indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino. Assim sendo, o gênero é uma noção socialmente construída de masculinidade e feminilidade, não o produto único do sexo biológico de um indivíduo. Muitas das diferenças existentes entre homens e mulheres são de origem social e não biológica.
•    Desde muito cedo, são transmitidos padrões de comportamento diferenciados para homens e mulhe-res. O conceito de gênero diz respeito ao conjunto das representações sociais e culturais construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo diz respeito ao atributo anatômico, no conceito de gênero toma-se o desenvolvimento das noções de “masculino” e “feminino” como construção social. O uso desse conceito permite abandonar a explicação da natureza como a responsável pela grande diferença existente entre os comportamentos e lugares ocupados por homens e mulheres na sociedade.
•    Muitas sociedades possuem apenas dois papéis de gênero -- masculino ou feminino -- e estes correspondem ao sexo biológico. Entretanto, algumas sociedades explicitamente incorporam pessoas que adotam o papel de gênero oposto ao sexo biológico, por exemplo, em algumas sociedades indígenas norte-americanas. Outras sociedades incluem papéis bem desenvolvidos que são explicitamente considerados distintos dos arquétipos (modelos) masculinos e femininos.
•    Joan Roughgarden, uma renomada bióloga estadunidense, argumenta que em algumas espécies animais não-humanas, ocorre a existência de mais de dois gêneros, de forma que pode haver múltiplas formas de comportamento disponíveis para organismos de um determinado sexo biológico.
•    Considerando as dinâmicas sociais como as apresentadas acima debate-se quais das diferenças entre gêneros masculinos e femininos são aprendidas socialmente, ou refletidas biologicamente. Construcionistas sociais argumentam que os papéis de gênero são inteiramente arbitrários, e que a biologia não interfere nos comportamentos sociais.
•    A sociologia contemporânea refere-se aos papéis de gênero masculino e feminino como masculinidades e feminilidades, respectivamente no plural ao invés do singular, enfatizando a diversidade tanto dentro das culturas como entre as mesmas.
•    A filósofa e feminista Simone de Beauvoir aplicou o existencialismo para a experiência de vida da mulher: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.4 No contexto é um testamento filosófico, entretanto é verdade biologicamente – uma garota precisa passar pela puberdade para se tornar uma mulher – verdade sociológica – a maturidade em relação ao contexto social é aprendida, não instintiva – e verdade nos estudos de gênero – a feminilidade como uma aprendizagem social e cultural.
•    Nos estudos de gênero, o termo gênero é usado para se referir às construções sociais e culturais de masculinidades e feminilidades. Neste contexto, gênero explicitamente exclui referências para as diferenças biológicas e foca nas diferenças culturais. Isto emergiu de diferentes áreas: da sociologia nos anos 50; das teorias do psicoanalista Jacques Lacan; e no trabalho de feministas como Judith Butler.
•    Na sociedade, identidade de gênero se refere ao gênero em que a pessoa se identifica (i.e, se ela se identifica como sendo um homem, uma mulher ou se ela vê a si como fora do convencional).

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