Profª de Filosofia e Sociologia da Rede Estadual de Goiás desde 2010.
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[2ª Série] Sociologia: Movimentos Operários no Brasil

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

O Movimento Operário no Brasil - II 

Greve Geral de 1917 - principais características, resumo e causas - Toda  Matéria 

Cem anos da Greve Geral de 1917 | Sinpro - JF

Os movimentos Operários no Brasil

 
No Brasil, o movimento operário surgiu mais tardiamente, também porque o processo de industrialização em terras brasileiras se deu bem depois.


Na República Velha (15 de novembro de 1889 até a Revolução de 1930) temos a vivência de todo um processo de transformações econômicas responsáveis pela industrialização do país.


Não percebendo de forma imediata tais mudanças, as autoridades da época pouco se importavam em trazer definições claras com respeito aos direitos dos trabalhadores brasileiros. Por isso, a organização dos operários no país esteve primeiramente ligada ao atendimento de suas demandas mais imediatas.


No início da formação dessa classe de trabalhadores percebemos a predominância de imigrantes europeus fortemente influenciados pelos princípios anarquistas e comunistas.


Contando com um inflamado discurso, convocavam os trabalhadores fabris a se unirem em associações que, futuramente, seriam determinantes no surgimento dos primeiros sindicatos em busca de melhores condições de trabalho, direitos e salário.


Com o passar do tempo, as reivindicações teriam maior volume e, dessa forma, as manifestações e greves teriam maior expressão.


Na primeira década do século XX, o Brasil já tinha um contingente operário com mais de 100 mil trabalhadores, sendo a grande maioria concentrada nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.


Foi nesse contexto que as reivindicações por melhores salários, jornada de trabalho reduzida, exclusão de menores de 14 anos nas fábricas e assistência social conviveram com perspectivas políticas mais incisivas que lutavam contra a manutenção da propriedade privada e do chamado “Estado Burguês”. Entre os anos de 1903 e 1906, greves de menor expressão tomavam conta dos grandes centros industriais.


Greve Geral de 1917
Tecelões, alfaiates, portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários foram os primeiros a demonstrar sua insatisfação. Notando a consolidação desses levantes, o governo promulgou uma lei expulsando os estrangeiros que fossem considerados uma ameaça à ordem e segurança nacional. Essa primeira tentativa de repressão foi imediatamente respondida por uma greve geral que tomou conta de São Paulo, em 1907.


Mediante a intransigência e a morosidade do governo, uma greve de maiores proporções foi organizada em 1917, mais uma vez, em São Paulo.


Os trabalhadores dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário foram os maiores atuantes nesse novo movimento. A tensão tomou conta das ruas da cidade e um inevitável confronto com os policiais aconteceu. Durante o embate, a polícia acabou matando um jovem trabalhador que participava das manifestações.


Esse evento somente inflamou os operários a organizarem passeatas maiores pelo centro da cidade. Atuando em outra frente, trabalhadores formaram barricadas que se espalharam pelo bairro do Brás resistindo ao fogo aberto pelas autoridades.


No ano seguinte, anarquistas tentaram conduzir um golpe revolucionário frustrado pela intercepção policial. Vale lembrar que toda essa agitação se deu na mesma época em que as notícias sobre a Revolução Russa ganhavam os jornais do mundo. Passadas todas essas agitações, a ação grevista serviu para a formação de um movimento mais organizado sob os ditames de um partido político.


No ano de 1922, inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, foi oficializada a fundação do PCB, Partido Comunista Brasileiro. Paralelamente, os sindicatos passaram a se organizar melhor, mobilizando um grande número de trabalhadores pertencentes a um mesmo ramo da economia industrial.


(UDESC 2018/1 - ADAPTADO) “A carestia do indispensável à subsistência do povo trabalhador tinha como aliada a insuficiência dos ganhos; a possibilidade normal de legítimas reivindicações de indispensáveis melhorias de situação esbarrava com a sistemática reação policial; as organizações dos trabalhadores eram constantemente assaltadas e impedidas de funcionar; os postos policiais superlotavam-se de operários, cujas residências eram invadidas e devassadas, qualquer tentativa de reunião de trabalhadores provocava a intervenção brutal da polícia (..) O ambiente operário era de incertezas, de sobressaltos e angústias. A situação tornava-se insustentável.” A citação é um relato de Edgar Leuenroth no jornal Estado de São Paulo, justificando a sua participação no movimento grevista de 1917. Conforme descreve Leuenroth, a condição operária gerou uma série de greves e mobilizações durante a primeira república. Assinale as afirmativas que se referem às reivindicações da classe operária, na segunda metade da década de 1910:
(__) reivindicava a jornada de 8 horas de trabalho.
(__) reivindicava o direito ao repouso semanal de 36 horas.
(__) reivindicava a proibição do trabalho de menores de 14 anos.

[1ª Série] Trilha de Aprof. Sociologia: O valor dado ao trabalho e o medo como razão do mercado capitalista

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

 O valor dado ao trabalho

 

O contexto da sociedade capitalista de mercado definiu um valor para o trabalho. Mas, que valor seria esse? Vejamos como Adam Smith, teórico que inspirou o liberalismo econômico, respondeu a essa questão, em 1776:

 

 

“Cada homem vive do seu trabalho, e o salário que recebe deve pelo menos ser suficiente para o manter. Em muitas ocasiões esse salário deve até ser um pouco mais alto; se não, ser-lhe-ia impossível constituir família, e a raça desses homens não passaria da primeira geração. (....) Os trabalhadores comuns, as camadas mais baixas, devem ganhar pelo menos o dobro daquilo de que necessitam para sua própria subsistência, a fim de que, quando se juntam dois trabalhadores de sexos diferentes, possam dar à luz e sustentar duas crianças”.

 

Fornecer ao trabalhador o mínimo necessário para sobreviver e procriar novos operários. Era esse o ensinamento que o fundador da ciência econômica dava aos capitalistas contemporâneos à Revolução Industrial. Assim como para os escravos da Antiguidade e os servos da Idade Média, a realização que os trabalhadores assalariados deveriam esperar de seus esforços na produção fabril era a de poder sobreviver e procriar.

 

Para o sistema fabril, o trabalho produtivo tinha por fim gerar uma riqueza que não deveria ser apropriada pelo trabalhador.

 

Apesar de o trabalhador ser livre e de a máquina ser anunciada como a que libertaria o homem do esforço físico, foi exatamente o contrário que aconteceu. As máquinas serviram tanto para o aumento da produtividade, como para impor a disciplina do tempo e do trabalho, com o objetivo de controlar as formas de desistência operárias, principalmente por meio da ameaça do desemprego.

 

 Saiba mais sobre a vida e a teoria de Adam Smith no vídeo abaixo: 👇


 

Na razão do  Mercado Capitalista, o medo

 

 

A máxima produtividade, proposta pelos teóricos do liberalismo – como Adam Smith, por exemplo -, transformava a sociedade do trabalho em sociedade da barbárie, marcada pela luta entre o capital e o trabalho. A utopia do crescimento infinito, sem contradições, parecia haver atingido o seu limite.


Diante das tensões surgidas, as elites sustentavam a necessidade de fazer algo além da repressão e da caridade para evitar um desastre social maior. O perigo iminente era o espectro da revolução, que se alastrava à medida que aumentava a exploração do trabalho.

 

 

 

Os escritos de Karl Marx e Friedrich Engels, a partir do Manifesto Comunista, de 1848, radicalizavam a crítica ao sistema de fábrica. Para esses autores, não existia possibilidade de reformas dentro do sistema. Só a erradicação da exploração do capital sobre o trabalho, lideradas pelas massas proletárias, traria soluções sociais positivas.

 

As denúncias sobre as condições miseráveis dos trabalhadores levavam as classes dirigentes a descobrir que essa situação era consequência do próprio projeto liberal. As elites eram obrigadas a reconhecer o problema não como degeneração genética dos pobres, mas como um problema social, que acabava envolvendo toda a sociedade, pobres e ricos.

 

O próprio Friedrich Engels, no clássico livro “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra” (1845), revelou, de maneira contundente, a pobreza e a precariedade dos cortiços, caracterizados pela insalubridade, exiguidade de espaço e superocupação. Na sua obra, reconhecia algumas melhorias nas condições dos trabalhadores de Londres, provenientes das ameaças engendradas pela miséria:

 

“As repetidas epidemias de cólera, tifo, varíola e outras enfermidades indicaram ao burguês britânico a necessidade urgente de proceder ao saneamento de suas cidades, a fim de que ele e sua família não se tornassem também vítimas dessas epidemias”.


Referências:

CORDI, C.; AL, E. Para filosofar. São Paulo (Sp): Scipione, 2000.