O valor dado ao trabalho
O contexto da sociedade capitalista de mercado definiu um valor para o trabalho. Mas, que valor seria esse? Vejamos como Adam Smith, teórico que inspirou o liberalismo econômico, respondeu a essa questão, em 1776:
“Cada homem vive do seu trabalho, e o salário que recebe deve pelo menos ser suficiente para o manter. Em muitas ocasiões esse salário deve até ser um pouco mais alto; se não, ser-lhe-ia impossível constituir família, e a raça desses homens não passaria da primeira geração. (....) Os trabalhadores comuns, as camadas mais baixas, devem ganhar pelo menos o dobro daquilo de que necessitam para sua própria subsistência, a fim de que, quando se juntam dois trabalhadores de sexos diferentes, possam dar à luz e sustentar duas crianças”.
Fornecer ao trabalhador o mínimo necessário para sobreviver e procriar novos operários. Era esse o ensinamento que o fundador da ciência econômica dava aos capitalistas contemporâneos à Revolução Industrial. Assim como para os escravos da Antiguidade e os servos da Idade Média, a realização que os trabalhadores assalariados deveriam esperar de seus esforços na produção fabril era a de poder sobreviver e procriar.
Para o sistema fabril, o trabalho produtivo tinha por fim gerar uma riqueza que não deveria ser apropriada pelo trabalhador.
Apesar de o trabalhador ser livre e de a máquina ser anunciada como a que libertaria o homem do esforço físico, foi exatamente o contrário que aconteceu. As máquinas serviram tanto para o aumento da produtividade, como para impor a disciplina do tempo e do trabalho, com o objetivo de controlar as formas de desistência operárias, principalmente por meio da ameaça do desemprego.
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Na razão do Mercado Capitalista, o medo
A máxima produtividade, proposta pelos teóricos do liberalismo – como Adam Smith, por exemplo -, transformava a sociedade do trabalho em sociedade da barbárie, marcada pela luta entre o capital e o trabalho. A utopia do crescimento infinito, sem contradições, parecia haver atingido o seu limite.
Diante das tensões surgidas, as elites sustentavam a necessidade de fazer algo além da repressão e da caridade para evitar um desastre social maior. O perigo iminente era o espectro da revolução, que se alastrava à medida que aumentava a exploração do trabalho.
Os escritos de Karl Marx e Friedrich Engels, a partir do Manifesto Comunista, de 1848, radicalizavam a crítica ao sistema de fábrica. Para esses autores, não existia possibilidade de reformas dentro do sistema. Só a erradicação da exploração do capital sobre o trabalho, lideradas pelas massas proletárias, traria soluções sociais positivas.
As denúncias sobre as condições miseráveis dos trabalhadores levavam as classes dirigentes a descobrir que essa situação era consequência do próprio projeto liberal. As elites eram obrigadas a reconhecer o problema não como degeneração genética dos pobres, mas como um problema social, que acabava envolvendo toda a sociedade, pobres e ricos.
O próprio Friedrich Engels, no clássico livro “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra” (1845), revelou, de maneira contundente, a pobreza e a precariedade dos cortiços, caracterizados pela insalubridade, exiguidade de espaço e superocupação. Na sua obra, reconhecia algumas melhorias nas condições dos trabalhadores de Londres, provenientes das ameaças engendradas pela miséria:
“As repetidas epidemias de cólera, tifo, varíola e outras enfermidades indicaram ao burguês britânico a necessidade urgente de proceder ao saneamento de suas cidades, a fim de que ele e sua família não se tornassem também vítimas dessas epidemias”.
Referências:
CORDI, C.; AL, E. Para filosofar. São Paulo (Sp): Scipione, 2000.
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