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[1ª Série] Filosofia: Parmênides de Eleia

segunda-feira, 19 de março de 2018

Textos extraídos da peça teatral “Grandes Pensadores”



 Por Karoline Rodrigues de Melo

PARMÊNIDES, O ELEATA – Παρμενίδης ὁ Ἐλεάτης



Monólogo de Parmênides:

— Bom dia! Deixem-me que faça a minha breve apresentação. Eu sou Parmênides de Eleia, pois sou natural dessa cidade, situada à costa sul da Magna Grécia.  Sou conhecido como um dos mais influentes filósofos pré-socráticos, embora tenha vivido na mesma época de Sócrates, este grande pensador ateniense!

Modéstia à parte, não fui um seguidor ou reelaborador de um pensamento já criado. Fui um inovador radical!

Não procurei um elemento da natureza para pensar como sendo o princípio substancial de tudo. Mas foquei meu pensamento no ser. O ser, na Filosofia, pode ser definido como "aquilo que é", mas dizer o que é o aquilo do ser, é outra questão filosófica!

Escrevi uma única obra chamada "Sobre a natureza", em forma de poema, que hoje apenas são conhecidos seus fragmentos. Nela narro o que ouvi das musas, que por uma carruagem puxada por corsas, conduziram-me à luz da verdade - que em grego significa alethéia.

Foram me oferecidas duas opções para compreender a realidade. A primeira diz respeito à via da opinião, que em grego chamamos de doxa. Essa é a via do erro, das opiniões falaciosas. É o caminho no qual os sentidos parecem atestar o devir, o movimento, o nascer e o morrer e, portanto, o ser junto com o não-ser. 

Meus caros, descobri que essa é a raiz do erro, da admissão da possibilidade de coexistir ser e não-ser, ou de admitir o ser virar não-ser e do nada, do não-ser surgir o ser. É contraditório buscar a essência, o princípio fundamental naquilo que não permanece. É um equívoco dar muita importância aos dados fornecidos pelos sentidos.

Mas, a verdade é, pois, o caminho do pensamento, já que o ser, o que existe, é tudo aquilo que pode ser pensado. Dessa forma, o que não é, o não-ser, o que não existe, não pode ser pensando nem, portanto, dito, sendo um caminho ilusório.

Para mim, a verdade sobre as coisas está no que permanece. Sendo assim, é necessário fazer o uso da razão para compreender a verdade. Assim, o ser - aquilo que é - é eternamente, pois o ser é a substância permanente. Ele é imutável e não pode deixar ser. Já o não-ser - a negação do ser - não é, não tem ser, não tem substância. Portanto, é nada, não existe. O não-ser é a mudança - devir -, que significa não ser mais aquilo que era, nem ser ainda algo que vai ser.

A via da opinião, da doxa, deve ser evitada para não concluirmos que "o ser e o não-ser são e não são a mesma coisa".

O filósofo alemão Nietzsche diz que se Heráclito é o filósofo do fogo, Parmênides é o filósofo do gelo, vertendo em torno de si uma luz fria e penetrante. Nietzsche descreve assim Parmênides, pelo fato de esse filósofo ter fixado no ser imóvel e uno a fonte de tudo o que é.

Em seu poema, o eleata narra o encontro com a deusa Verdade, que o instrui a se afastar do caminho sensível, uma via de confusão, que leva as massas indecisas a acreditarem que ser e não-ser são iguais.

O caminho do ser é o caminho da verdade, que deve ser una e sempre idêntica a si mesma. Na matemática, dois mais dois são quatro. Não importa o quanto as pessoas mudem de opinião, essa verdade continua inabalável - e mesmo as pessoas mais irascíveis são obrigadas a concordar com ela.

Parmênides exerceu grande influência no pensamento de Platão, filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental.

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