A Sociologia de Karl Marx – Texto II
Karl Marx, era prussiano de nascimento. Marx é importante tanto para a Filosofia quanto para Sociologia por conta do materialismo histórico, claro.
Um método de análise da sociedade que resultou das várias influências desse pensador, a mais notável delas, Hegel e sua dialética.
Entretanto, ao contrário de Hegel, Marx afirma que são as condições materiais de existência que definem as relações sociais, ou seja, não é a ideia ou a razão que constrói o mundo a sua volta, mas o contrário, a matéria que determina a ideia.
Nas palavras de Marx: "Não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas, pelo contrário, seu ser social é que determina sua consciência." Assim sendo, uma sociedade é a expressão de suas condições materiais.
Infraestrutura e Superestrutura
Marx chamou de infraestrutura a base material da sociedade, que age através do modo de produção, que é a maneira como as forças produtivas são articuladas pelas relações de produção.
A infraestrutura expressa então, todo um conjunto de leis, regras, valores e ideias, que servirão de suporte ideológico dessa base material. Essa é a superestrutura, o nível ideológico e político-jurídico da sociedade.
Toda elite tentará justificar seu poder através de um conjunto de ideias, produzindo assim, representações da realidade que atendem a seus interesses, e lhes permitem continuar a exercer seu domínio sobre as demais classes sociais. Dessa fora, as ideologias da classe dominante tendem a se tornar a representação da realidade de todas as classes.
Assim, é mais fácil os trabalhadores acreditarem que o desemprego crescente é consequência da sua falta de qualificação e não na transformação na base material provocada por estratégias de maximização do lucro por parte da burguesia, por força da reprodução da ideologia.
As relações de exploração e conflitos
Para Marx, em uma perspectiva histórica, todas as sociedades mantêm relações sociais de produção exploratórias, com a elite detendo o controle sobre a riqueza produzida pela classe oprimida.
Nas relações sociais de produção do capitalismo, são observadas duas principais classes, que são posições ocupadas nessas relações, a burguesia, que controla os meios de produção e explora o proletário pela mais-valia e o proletariado, aqueles que nada possuem além da sua capacidade de agregar valor pelo trabalho e precisam, por isso mesmo, vender sua força de trabalho.
Essas classes estão em constante conflito. Chamado por Marx de luta de classes, essa tensão decorrente da exploração de uma classe sobre a outra acontece porque os burgueses visam sempre maximizar seu lucro. Lembrando sempre que o acúmulo é o objetivo do capitalismo, enquanto o proletariado luta por condições minimamente dignas de existência.
Mais-valia, mercadoria e valor.
A mais-valia se dá por uma diferença de valor, quando produzimos algo, que é útil, esse objeto tem valor de uso, o valor de uso pode ser pessoal ou estar em coisas que não são negociáveis. A mais-valia é baseada na utilidade, ligada as propriedades físicas do objeto. Um grande exemplo é o oxigênio, que é vital para todos os seres humanos e mesmo assim não é comercializado.
O que define uma mercadoria é o valor de troca, ou seja, que haja uso social desse objeto. Uma mercadoria é um produto de trabalho que será trocado. E como medir o valor de troca? Pelo tempo socialmente necessário para a produção dessa determinada coisa. Se leva três horas para produzir um sapato e seis para produzir uma lâmpada, então dois sapatos valem uma lâmpada.
Na mais-valia, o valor pago pelo burguês ou proletário para a produção das mercadorias e o valor que essas mercadorias alcançam no mercado são diferentes. Ou seja, quando usa a força de trabalho comprada do proletariado, a burguesia gera mais valor, já que o trabalho agrega valor a mercadoria, que necessita para remunerar por esse trabalho. Essa diferença só é possível porque o valor de uso da força de trabalho é maior que o valor de troca.
A alienação do trabalho capitalista
No modo de produção capitalista, não são as pessoas o objetivo da produção, a satisfação de suas necessidades, mas a produção em si. Isso possibilita uma gestão fragmentada e eficiente do trabalho.
Por não acessar, controlar e aproveitar o resultado pleno do seu trabalho, o trabalhador sofre alienação, afastado daquilo que no fim das contas, é o seu espelho.
As consequências sociais do afastamento entre o trabalho e o produto do seu trabalho são ignoradas. Como desdobramento, a própria organização da sociedade se fragmenta, as atividades econômicas, as profissões, as artes, o saber etc.
Assim, o trabalhador não consegue mais conceber o processo produtivo na sua totalidade e perde a noção de como esse processo se dá e de sua posição nele, perdendo a noção das consequências jurídico-políticas e ideológicas desse processo também. O trabalhador é afastado também do consumo, não podendo desfrutar da riqueza que é consequência de sua atividade.
O trabalho passa a se tornar não mais a realização do ser humano como ser humano, aquilo que o diferencia de outros seres, mas uma atividade desprazerosa.
Assim, o trabalhador torna-se mais do que uma mercadoria disponível para compra do burguês, torna-se uma peça, uma engrenagem que compõe as forças produtivas.
O trabalhador sofre o processo de reificação, onde pessoas e relações passam a ser uma coisa. Nesse processo de coisificação, o trabalhador busca a sua completude, que tende a ocorrer quando adquire aquilo que lhe foi afastado.
Já que não se sabe mais quem fez o objeto, passa a ser mais importante ter o objeto, esse descontrole por fim, permite que o objeto adquira características sobrenaturais. Claro que os objetos não têm tais características, mas, a intensa mercantilização do sistema capitalista e o afastamento entre os homens e as coisas gera o fetiche, que faz com que as últimas ganhem vida.
A fetichização ocorre quando as relações sociais e a própria vida material passam a acontecer através das coisas, as mercadorias passam a ser adoradas por características que não possuem, mas são atribuídas subjetivamente pelos seres humanos.
A transformação de dado modo de produção só é possível através de uma práxis revolucionária, acontece quando a classe oprimida toma consciência de sua condição, consciência de classe, percebendo as implicações políticas e econômicas da estrutura social.
Essa tomada de consciência ocorre por um constante fazer pensar como uma atitude prático-crítica em que as circunstâncias em que a vida acontece são tanto pensadas quanto construídas pelos homens. A práxis revolucionária não é uma atitude de materialismo extremo nem de idealismo extremo, afinal, para Marx, os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sobre aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
Apenas uma transformação na forma como o modo de produção se estabelece pode pôr fim aos problemas sociais gerados pelo capitalismo e expressar uma nova superestrutura. Não se trata de ignorar o desenvolvimento histórico, afinal, para Marx a História é um processo dialético.
Confrontada pelas suas contradições, a sociedade capitalista passaria para um novo estágio, síntese dessa contradição, um modo de produção comunista, onde todo trabalhador tem acesso aos meios necessários para a produção da vida material e que abolirá a superestrutura formada pelo capitalismo, possibilitando o exercício real das ideias de liberdade, igualdade política e jurídica defendidas pelo liberalismo.
Prof.ª Karoline Rodrigues de Melo
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