Trabalho ao longo da História
“À medida que a esfera do trabalho se alarga, a do sorris diminui.”. Octávia Paz
O trabalho na Antiguidade greco-romana
A existência de cidadãos e escravos na sociedade grega, considerada o berço da democracia, era assim explicada pelos filósofo Aristóteles:
“Todos aqueles que nada têm de melhor para nos oferecer que o uso do seu corpo e dos seus membros são condenados pela natureza à escravidão. É melhor para eles servir que serem abandonados a si próprios. Numa palavra, é naturalmente escravo quem tem tão pouca alma e tão poucos meios que deve resolver-se a depender de outrem (....) O uso dos escravos e dos animais é aproximadamente o mesmo.”
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martin Claret, 2002.
Assim, para Aristóteles a diferença social entre os homens era natural, não havendo contradição na divisão que se impunha entre o trabalho manual e as atividades intelectuais e políticas.
Na cultura grega, cabiam aos cidadãos a organização e o comando da pólis (cidade). Ao cidadão era proibido o trabalho braçal, já que ele deveria ter o tempo livro (ócio) para a reflexão, o exercício da cidadania e o bem-governar.
As funções dos escravos, entretanto, eram restritas à atividade inferior da transformação da natureza em um bem determinado pela vontade das camadas superiores. Por ser rotineiro e não exigir capacidade reflexiva, o trabalho manual era considerado atividade degradante, relegada a escravos e não-cidadãos.
Em Roma, permaneceu a divisão entre a arte de governar e o trabalho braçal, que era visto como degradante e destinado aos povos dominados, tidos como seres inferiores. Trabalhar, para o cidadão romano, era “negar o ócio” (negotium), negar o tempo livre e o lazer.
A Experiência Medieval
A Idade Média ocidental-cristã não alterou substancialmente o conceito de trabalho. Organizada com base numa economia de subsistência, grande parcela da população, apesar de livre em relação aos senhores proprietários, estava presa à terra, em luta pela sobrevivência.
A Igreja Católica, pregando a adoração a Deus, defendia o desapego às riquezas terrenas. Preocupada em organizar e manter seu poder temporal, ela condenava o trabalho como forma de enriquecimento. O trabalho era visto apenas como meio de subsistência, de disciplina do corpo e de purificação da mente. Assim, servia como instrumento de dominação social e de condenação a qualquer questionamento à ordem divina.
A ociosidade entre as classes senhoriais, assim como ocorrera na Antiguidade greco-romana, não era sinônimo de preguiça, mas de abster-se das atividades manuais para se dedicar a funções mais nobres, como a política, a guerra, a caça, o sacerdócio – enfim, ao exercício do poder.
Aos servos cabiam as atividades agrícolas ou artesanais. Obedecendo a um ritmo de trabalho próprio da economia de subsistência, era permitido aos trabalhadores possuir suas ferramentas e dominar o saber técnico da produção. Essa proximidade com uma economia natural concedida aos trabalhadores uma relativa liberdade no uso de seu tempo, apesar da ausência de direitos políticos.
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