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[1ª Série]: Tópicos de Filosofia: Heráclito

domingo, 12 de agosto de 2012


Heráclito: tudo flui
Viveu no século V a.C: Se o filósofo Parmênides fica impressionado com a identificação racional de um ser que confere identidade à realidade e, ao mesmo tempo, não pode admitir a mobilidade e a variação percebidas no real, Heráclito se impressiona com aquela variação constante que a realidade manifesta aos seus sentidos. “Panta rei“, afirmava Heráclito, o que significa: “Tudo muda”, “tudo flui”.
Este filósofo afirmava que a própria identidade das coisas está na mudança constante, na variação e no movimento incessante. “Não podemos entrar em um rio duas vezes pois, na segunda vez já não são as mesmas águas. Já não é o mesmo rio”, afirmava Heráclito. Para ele, nada existe no mundo que possa escapar à mudança.
Ele afirma que o princípio de tudo, o elemento fundamental é o fogo. É preciso notar que a indicação do fogo como princípio de todas as coisas não coloca Heráclito na mesma condição que os filósofos de Mileto. O fogo mencionado por Heráclito não se iguala à água de Tales ou ao ar de Anaxímenes. Quando Heráclito indica o fogo como elemento primordial, está muito mais próximo de uma linguagem simbólica do que apontando para um fundamento concreto, um arque. É necessário perceber que o fogo só existe pela constante mudança de coisas em cinzas e fumaça. Aniquilada esta mudança, não existe mais o fogo. Assim Heráclito vê toda a realidade como que alimentada de mudança o tempo todo.
Héraclito é verdadeiramente o filósofo da pesquisa. Nele, pela primeira vez, a pesquisa filosófica alcança a clareza da sua natureza e dos seus pressupostos. Por alguma razão a própria palavra filosofia é usada e classificada no seu justo sentido.
Segundo Heraclito, a própria natureza impõe a pesquisa: com efeito ela "gosta de ocultar-se." (fr. 123, Diels). Ele diz que o homem deve examinar-se a si mesmo. "Procurei-me a mim mesmo", diz ele (fr. 101, Diels). A pesquisa interior abre ao homem zonas sucessivas de profundidade, que jamais se esgotam: a razão, a lei última do eu, aparece continuamente mais além, em uma profundidade sempre mais longínqua e ao mesmo tempo sempre mais íntima.
Heraclito põe constantemente defronte do homem a alternativa entre o estar acordado e o dormir: entre o abrir-se, mediante a pesquisa, à comunicação inter-humana, que revela a realidade autêntica do mundo objectivo: e o fechar-se no próprio pensamento isolado, num mundo fictício que não tem comunicação com os outros (fr. 2, 34, 73; 89).
Nestas afirmações está contido o ensinamento fundamental de Heraclito, de cujo ensinamento ele deduz que os homens não podem elevar-se senão por meio de uma longa pesquisa "Os homens não sabem como o que é discorde está em acordo consigo mesmo: harmonia de tensões opostas, como as do arco e da lira" (fr. 51).
A harmonia não é para Heraclito a síntese dos opostos, a conciliação e o anulamento das suas oposições; é antes a unidade que submete precisamente as oposições e a torna possível. A Homero, que dissera: "Possa a discórdia desaparecer de entre os deuses e de entre os homens", Heraclito replica: "Homero não se apercebe que pede a destruição do universo; se a sua prece fosse atendida, todas as coisas pereceriam" (Diels, A22): A tensão é uma unidade (isto é, uma relação) que pode encontrar-se somente entre coisas opostas enquanto opostas. A conciliação, a síntese anulá-la-iam. Unidade própria do mundo é, segundo Heraclito, uma tensão deste género: não anula nem concilia nem supera o contraste, mas fá-lo existir, e fá-lo compreender, como contraste.

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