Heráclito: tudo flui
Viveu no século V a.C: Se o filósofo Parmênides
fica impressionado com a identificação racional de um ser que confere
identidade à realidade e, ao mesmo tempo, não pode admitir a mobilidade e a
variação percebidas no real, Heráclito se impressiona com aquela variação
constante que a realidade manifesta aos seus sentidos. “Panta rei“, afirmava
Heráclito, o que significa: “Tudo muda”, “tudo flui”.
Este filósofo afirmava que a própria identidade
das coisas está na mudança constante, na variação e no movimento incessante.
“Não podemos entrar em um rio duas vezes pois, na segunda vez já não são as
mesmas águas. Já não é o mesmo rio”, afirmava Heráclito. Para ele, nada existe
no mundo que possa escapar à mudança.
Ele afirma que o princípio de tudo, o elemento fundamental
é o fogo. É preciso notar que a indicação do fogo como princípio de todas as
coisas não coloca Heráclito na mesma condição que os filósofos de Mileto. O
fogo mencionado por Heráclito não se iguala à água de Tales ou ao ar de
Anaxímenes. Quando Heráclito indica o fogo como elemento primordial, está muito
mais próximo de uma linguagem simbólica do que apontando para um fundamento
concreto, um arque. É necessário perceber que o fogo só existe pela constante
mudança de coisas em cinzas e fumaça. Aniquilada esta mudança, não existe mais
o fogo. Assim Heráclito vê toda a realidade como que alimentada de mudança o
tempo todo.
Héraclito é verdadeiramente o filósofo da
pesquisa. Nele, pela primeira vez, a pesquisa filosófica alcança a clareza da
sua natureza e dos seus pressupostos. Por alguma razão a própria palavra
filosofia é usada e classificada no seu justo
sentido.
Segundo Heraclito, a própria natureza impõe a pesquisa: com efeito ela "gosta de ocultar-se."
(fr. 123, Diels). Ele diz que o homem deve examinar-se a si mesmo. "Procurei-me
a mim mesmo", diz ele (fr. 101, Diels). A pesquisa interior abre ao homem
zonas sucessivas de profundidade, que jamais se esgotam: a razão, a lei última
do eu, aparece continuamente mais além, em uma profundidade sempre mais
longínqua e ao mesmo tempo sempre mais íntima.
Heraclito põe constantemente defronte do homem a
alternativa entre o estar acordado e o dormir: entre o abrir-se, mediante a
pesquisa, à comunicação inter-humana, que revela a realidade autêntica do mundo
objectivo: e o fechar-se no próprio pensamento isolado, num mundo fictício que
não tem comunicação com os outros (fr. 2, 34, 73; 89).
Nestas afirmações está contido o ensinamento
fundamental de Heraclito, de cujo ensinamento ele deduz que os homens não podem
elevar-se senão por meio de uma longa
pesquisa "Os homens não sabem como o que é discorde está em acordo consigo
mesmo: harmonia de tensões opostas, como as do arco e da lira" (fr. 51).
A harmonia não é para Heraclito a síntese dos
opostos, a conciliação e o
anulamento das suas oposições; é antes a unidade que submete precisamente as
oposições e a torna possível. A Homero, que dissera: "Possa a discórdia
desaparecer de entre os deuses e de entre os homens", Heraclito replica:
"Homero não se apercebe que pede a destruição do universo; se a sua prece
fosse atendida, todas as coisas pereceriam" (Diels, A22): A tensão é uma
unidade (isto é, uma relação) que pode encontrar-se somente entre coisas
opostas enquanto opostas. A conciliação, a síntese anulá-la-iam. Unidade
própria do mundo é, segundo Heraclito, uma tensão deste género: não anula nem
concilia nem supera o contraste, mas fá-lo existir, e fá-lo compreender, como
contraste.
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