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[3ª Série] Filosofia: Fédon e a Imortalidade da Alma

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Olá turmas! Achei este texto sobre a imortalidade da alma para Platão que foi feito por mim no meu primeiro ano de Faculdade. Ainda tinha algumas dificuldades na escrita e também na exposição das ideias, portanto, sejam  pacientes. =) Apesar disso, creio que ele servirá na compreensão do tema já trabalho em sala. Espero que aproveitem.

A questão da Imortalidade da Alma no Diálogo Fédon, de Platão

Por Karoline Rodrigues de Melo - Filosofia Antiga I, 2003
A discussão sobre  morte parece começar efetivamente quando Sócrates pede à Cebes, quando encontrar Eveno[1], que transmita-lhe as suas saudações e um conselho: "se de fato ele é sábio que siga minhas pegadas o mais depressa que puder!"[2]. Ele quer dizer aqui que o sábio, o filósofo deseja muito morrer e sua vida consiste em preparar-se para a morte. Entretanto, tem o cuidado de dizer que mesmo para aqueles que a morte é vista como um bem, não se deve cometer suicídio, pois "os Deuses são aqueles sob cuja guarda estamos, e nós homens somos uma propriedade dos Deuses"[3].
Neste fragmento parece estar exposto mais a ideia do próprio Sócrates de que a de Platão. Sócrates respeitava o deus Apolo, e quando foi condenado à morte acreditava que o deus queria-o para perto de si. 

Quando seu amigo Querofonte fora à Delfos consultar o oráculo para saber quem era o mais sábio de Atenas, a sacerdotisa do templo afirmou que não havia ninguém mais sábio do que Sócrates. Ele se surpreende, pois acreditava nada saber. Mas Apolo não mente, então Sócrates tenta entender o que o deus quis dizer com a profecia.

Sócrates sai às ruas à procura do verdadeiro sábio. Sábio, para Sócrates, era aquele que sabia conceituar, dizer "o que é" e "para que serve". Ele procurou nos grupos de políticos, poetas e artesãos quem pudesse responder "o que é" que fazem e "para quê" fazem. Percebendo que em nenhum dos grupos alguém soube lhe responder, concluiu que ele era realmente o homem mais sábio de Atenas, visto que sabia que não sabia, ao contrário dos outros que achavam ou fingiam que sabiam.

Na Defesa de Sócrates ou Apologia de Sócrates, escrita por seu discípulo Platão, Sócrates afirmava ter dentro de si um "daimon"[4] que dizia o que não deveria fazer. E quando estava a caminho de seu julgamento o daimon não se manifestou. Por conta disso, Sócrates na passagem 40c diz não ser propriamente um mal a sua condenação à morte, já que o seu "daimon" não se opôs.

Parece que, na Apologia de Sócrates estão as ideias de Sócrates, ao contrário do diálogo Fédon onde são as ideias de Platão expostas. Quando Sócrates afirma na Apologia que a morte pode não ser um mal, ele não afirma diretamente que há uma vida após a morte. Ele levanta duas hipóteses: uma, que a morte possa parecer-se com um sono profundo, sem sonhos e, portanto, sem sensações. E outra hipótese levando em conta a tradição órfica, que diz existir uma vida após a morte. 

Sendo assim, se morrer é como um sono profundo então "é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa alguma", "Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que o adormecido nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morte"[5], e assim o fosse não haveria sofrimento para aqueles que, em vida, praticaram ou praticam algum mal.

Por outro lado, se existisse uma vida após a morte, parece que esta agradaria mais a Sócrates. Estaria ele ao lado de grandes personagens como Homero e Hesíodo, podendo conversar e até interrogá-los como sempre fez em busca da sabedoria. No entanto, não afirma nem a primeira, nem a segunda hipótese. 

Ele não temia a morte por não saber o que viria depois, se é que depois dela teria alguma coisa. Se a vida é melhor que a morte, também não saberia dizer, "é segredo para todos, menos para a divindade"[6].

No Fédon, Sócrates tenta tranquilizar e convencer seus amigos dizendo que amorte por ele já era muito esperada. A morte, ao que parece, é uma outra vida só que desvencilhada do corpo. E aqueles que são verdadeiramente filósofos estão sim se preparando para a morte. 

O corpo é tido como "cárcere da alma". Enquanto a alma estiver em um corpo, não será capaz de contemplar o verdadeiro. Tudo o que percebemos através dos nossos sentidos não nos é digno de confiança. 

Aparece aqui o esboço da teoria das Formas explícita por Platão no diálogo A República. Ele acredita haver formas universais, perfeitas em si mesmas, não sujeitas à geração e à corrupção e que seguram as coisas aqui do mundo sensível onde estamos. O mundo sensível é cópia dessas formas que estão no mundo das ideias.

Como os filósofos devem se preparar para a morte? Distanciando-se ao máximo dos prazeres corpóreos. Bebidas e comidas em excesso são evitadas. Quanto ao dinheiro e ao luxo, os filósofos não se importam com isso. E ao amor corpóreo também devem se afastar. Quem está prezo aos prazeres do corpo não é capaz de enxergar o que há de mais verdadeiro. Por isso, "durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos [...] este objeto é a verdade"[7].

Quem não se priva dos prazeres corpóreos não é capaz de voltar-se para a alma; ama tanto o corpo que teme a morte, e só através dela é que o homem pode enxergar o que é verdadeiro.

Para o filósofo, o prazer não está nas coisas mundanas, está na contemplação do que há de mais Verdadeiro, mais perfeito, o mais digno de ser amado: a Sabedoria[8]. É após a morte que o homem pode conhecer o que é "bom em si", "belo em si", "justo em si". Aquele que dedica a amar as coisas referentes ao corpo, que deixa levar-se pelos prazeres corporais, quando morrer não quererá ficar longe do corpo. Estando esta alma impura por passar uma vida inteira com a alma misturada ao corpo tornar-se-á visível, vagando entre os vivos.

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[1] Eveno foi um poeta grego. Sócrates se refere a ele, pois, enquanto aguardava a execução de sua pena, havia escrito alguns versos e Eveno tomara conhecimento destes. Sócrates afirma que os escreveu em virtude de alguns sonhos que havia tido e esses diziam para ele compor músicas.
[2] Fédon, (61c).
[3] Fédon, (62b).
[4] Espécie de gênio. Funciona como a consciência de Sócrates.
[5] Defesa de Sócrates, (40d).
[6] Defesa de Sócrates, (42a).
[7] Fédon, (66b).
[8] Fédon, (66c).

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