O Mito do Tarzan
No começo do século XX, o escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs
(1875-1950) deu início à publicação de uma série de histórias cujo
personagem central era um homem criado desde criança por grandes macacos
na África. Filho de um casal de nobres ingleses mortos após o naufrágio
do navio em que viajavam pela costa africana, seu nome era John
Greystoke. Os macacos que o criaram, porém, o chamavam de Tarzan.
Sucesso imediato entre os leitores, Tarzan logo passou para as telas de
cinema e para as histórias em quadrinhos, encantando sucessivas
gerações.Nas histórias de Burroughs, Tarzan aprendeu a ler sozinho, com a ajuda apenas de um livro encontrado em uma cabana. Além disso, demonstrava sentimentos nobres e humanos e defendia valores semelhantes aos da sociedade em que viveu o escritor. Na verdade, o autor criou Tarzan segundo a imagem que tinha do homem europeu na época vitoriana: "civilizado", incapaz de atos de violência gratuita, justiceiro e ... "superior" aos africanos. Tratava-se, portanto, de uma construção ideológica que reproduzia as relações de dominação das potências européias sobre os povos da África na época do imperialismo (séculos XIX e primeira metade do século XX). Por essa época, os líderes das potências européias justificavam essa dominação afirmando que os europeus iam para a África difundir o que chamavam de "civilização" entre povos "bárbaros" e "atrasados".
Como obras de ficção, os livros de Tarzan sempre atraíram o interesse de jovens leitores. Como fonte de conhecimento, entretanto, apresentam uma imagem falsa e deformada da África, criando um personagem mítico, distante da realidade. Como vimos, os indivíduos da espécie humana só se tornam verdadeiramente humanos por intermédio da convivência e da interação em um meio social, ou seja, com seres de sua espécie. Como outras construções ideológicas, Tarzan con¬tribuiu para difundir e legitimar os interesses imperialistas de dominação dos povos africanos entre os séculos XIX e XX.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ed. Ática, 2010. p.11.
1 comentários:
otimo!
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