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[3ª Série] Filosofia: Felicidade

sábado, 4 de fevereiro de 2012

                   Felicidade: Como os grandes sábios podem nos ajudar a viver melhor
                                                                                                                                              Paulo Nogueira

A filosofia existe para que as pessoas possam viver melhor. Sofrer menos. Lidar mais serenamente com as adversidades. A missão essencial da filosofia é tornar viável a busca da felicidade. Todos os grandes pensadores sublinharam esse ponto.

A filosofia apoia e consola. "O ofício da filosofia é serenar as tempestades da alma", escreveu o sábio francês Montaigne (1533-1592). Ele definiu a filosofia como a "ciência de viver bem".
Boécio (480 d.C.-524 d.C.) era rico, influente, poderoso. Era dono de uma inteligência colossal: traduziu para o latim toda a obra de Aristóteles e Platão. Tudo ia bem. Foi acusado de traição pelo imperador e condenado à morte. Recorreu à filosofia, em que era mestre, para enfrentar o suplício.
Naqueles dias, a elite intelectual costumava decorar os livros, lidos em voz alta desde a infância. Formava-se uma espécie de "biblioteca invisível". Entre a sentença e a morte, Boécio escreveu em condições precárias um livro que se tornaria um clássico da literatura ocidental: A Consolação da Filosofia. Tudo de que ele dispunha, para escrevê-lo, eram pequenas tábuas e estiletes. Isso lhe foi passado, para dentro da cela, por amigos. "A felicidade pode entrar em toda parte se suportarmos tudo sem queixas", escreveu ele.
Demócrito, pensador grego do século V a.C., escreveu um livro chamado Sobre o Prazer. Primeira frase do livro: "Ocupe-se de pouco para ser feliz". Ninguém com múltiplas tarefas pode aspirar à felicidade. Sobrecarregar a agenda equivale a sobrecarregar o espírito, e traz inevitavelmente angústia.
Epicuro, grego do período helenístico, defendia a liberdade e o prazer. Isso fez que sua doutrina fosse muitas vezes confundida com o hedonismo. Mas o prazer pregado por Epicuro era a quietude da mente e o domínio das emoções. Para ele, a função principal da filosofia é libertar o espírito.
Esqueça o passado - e não se atormente com o futuro: O dia de amanhã é fonte permanente de inquietação para as pessoas. Não se preocupar com o que vem pela frente é "uma das maiores marcas de sabedoria", segundo Epicuro
Os filósofos também apontam a aceitação dos tropeços, porque são inevitáveis, ensinado pelo filósofo Zenão, que fundou o estoicismo. É o equilíbrio, a calma diante do revés ou da vitória. O estoicismo defendia uma vida natural e simples no estilo e comportamento de vida. E tinha a lógica da aceitação e resignação, pois agastar-se com os fatos, pioravam o espírito da pessoa. Zenão não deixou livros para hoje, mas ótimas frases, como “A natureza nos deu dois ouvidos e apenas uma boca para que ouvíssemos mais e falássemos menos”.  Aceitar as coisas como elas são, é ingrediente para ser feliz.
Descartes também disse “É mais fácil mudar seus desejos do que mudar a ordem do mundo”. Exemplo: no meio de um congestionamento, não há o que ser feito, ouça uma música então. Epíteto também diz que devemos ocupar somente com o que está sobre nosso controle. O nosso estado de espírito é moldado pela forma como encaramos os fatos.
A vida feliz também é conturbada pelo medo da morte. Sêneca desprezava a morte não por morbidez, mas sim porque quem despreza vive, paradoxalmente, melhor, não pesa o terror. “Imagine que cada dia vai ser o último, e assim você aceitará com gratidão aquilo que não mais esperava”, sábio da Antiguidade.
Falam também do medo do envelhecimento e a luta inútil pela juventude eterna. Segundo Cícero “Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam. Eis aí a consequência da estupidez”. E arremata “Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade”. Cícero ajudou a enxergar a velhice com bons olhos, mostrando que devemos permanecer intelectualmente ativos e mostra a beleza de cada fase da vida: a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice. Para ele, “a memória declina se não a cultivamos ou se carecemos de vivacidade de espírito”.

Referências: NOGUEIRA, Paulo. Felicidade: Como os grandes sábios podem nos ajudar a viver melhor. Revista Época, Edição nº 453. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/revista/época/1,,edg76227-6010,00.html. 

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