Dois
relatos míticos
Costumamos
dizer que a filosofia é grega, por ter nascido nas colônias gregas no século VI
a.C. E antes da filosofia, que tipos de pensamentos ocupavam a mente das
pessoas?
O
mito foi o modo de consciência que predomina nas sociedades tribais e que nas
civilizações da Antiguidade ainda exerceu significativa influência. Ao
contrário, porém, do que muitos supõem, o mito não desapareceu com o tempo.
Está presente até hoje, permeando nossas esperanças e temores.
Entre
os povos indígenas habitantes das terras brasileiras, encontramos várias
versões sobre a origem da noite. Um desses relatos é o dos maué, nativos dos
rios Tapajós e Madeira. Segundo eles, no início só havia o dia. Cansados da
luz, foram ao encontro da Cobra-Grande, a dona da noite. Ela atendeu ao pedido
com a condição de que os indígenas lhe dessem o veneno com que os pequenos animais
como aranhas, cobras e escorpiões se protegiam. Em troca, receberam um coco com
a recomendação de só abri-lo ao chegarem à maloca. Ao ouvirem ruídos estranhos
saindo dele, não resistiram à tentação e assim deixaram escapar antecipadamente
a escuridão da noite. Atônitos e perdidos, pisaram nos pequenos bichos, cujas
picadas venenosas mataram muitos deles. Desde então, os sobreviventes
aprenderam os cuidados que deve riam tomar quando a noite viesse.
De modo semelhante aos maué, os gregos dos
tempos homéricos narram o
mito de Pandora, a primeira mulher. Em uma das muitas versões desse mito, Zeus enviou
um presente aos humanos, mas com a intenção de puni-los por terem recebido o fogo do titã Prometeu, que o roubara dos Céus. Pandora levava consigo uma caixa,
que abriu por curiosidade, deixando escapar todos os males que afligem a
humanidade. Conseguiu, porém,
fechá-Ia a tempo de reter a esperança, única maneira de suportarmos as dores e os sofrimentos da vida.
Nos dois relatos, percebemos
situações aparentemente diversas, mas que se
assemelham, pois ambos tratam da origem de algo: entre os indígenas, como surgiu a noite; e entre os gregos, a origem dos
males. E trazem como consequências dificuldades que as pessoas devem enfrentar. A leitura apressada do
mito nos leva a compreendê-lo como uma maneira fantasiosa de explicar a realidade, quando esta ainda não foi justificada pela razão. Sob esse enfoque, os mitos seriam lendas, fábulas, crendices e, portanto, um tipo inferior de conhecimento, a ser superado por explicações mais racionais. Tanto é que, na linguagem comum, costuma-se identificar o mito à mentira.
1 comentários:
Leitor anônimo (que não tem coragem de se identificar!), certamente você não foi meu aluno nesse período (observou a data do post?). Pois se fosse, deveria saber que meus alunos não tinham livro didático como você diz ter! Durante muito tempo tive que buscar em vários livros material para reproduzir, muitas vezes com recursos próprios, para que eles pudessem estudar.
Você não é obrigado a acessar o blog. Quer ver algo diferente do seu livro didático, vá atrás! Se julga capaz de criticar o trabalho de um professor, então saia da escola e vá se aperfeiçoar sozinho.
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